quarta-feira, 29 de julho de 2009

Verbo

Os verbos conjugam em meu viver
A dor vivente de sofrer,
Uma melodia constante em meu pretérito imperfeito
Da solidão sou a perfeita rima, de paz estou desfeito,

Sou a obscura sombra do vazio e incessante e silente
Que habita o infinitivo, futuro do meu presente,
Estraçalhando-me, somente nos outros o amor encontra razão,
Anseio, como inveja, do alheio a perfeição,

Mais-que-incompleto é o tempo irregular em meu destino
Tão farto de desesperança na dor da saudade inflamada,
Defectível presença da insensatez do medo enfermo do desatino,
Relutante em não partir vesana alma atormentada

Que não conjuga o verbo amar ...
Não julga a tristeza e intensamente a sente
Como castigo não o fosse, mas penitência pra se perdoar
E unir os sonhos a realidade em um só verbo eternamente ...

Joao Paulo Castro

Camões

Como sentes o meu sentir desvairado, um amor quase infinito,
Sem mágoas e sem dores, de sentidos quase perdidos,
Entregar-se de alma a plenitude quase serena,
Laçando e entrelaçando quase todo sentir humano,

Imaginando no verossímil ou no que é quase engano,
Pensar calado em quase tudo que existe ou é fantasiado,
Despindo a face oculta de quase todo o mistério
Da fé e da vida quase sempre farta de desesperança,

E sinto que sentes falta, quase que desfeito do calor
Que queima e alenta quase todo o viver, vazio
E ferido, quase desfigurado, mas com espírito elevado,
Caminhas desordenadamente sem direção, quase sem sentido,

Pisas de leve o chão quase todo ladrilhado em verdade,
Respiras os ares dos sonhos e dos amores quase realizados,
E como é doloroso deitar e adormecer nessa quase realidade,
De um ser quase perfeito, quase um Deus de toda poesia ...

Joao Paulo Castro
Homenagem ao escritor português Luis Vaz de Camões

Divindade

Luz do sombrio ermo de minha alma
Entoando nênias aos braços da nostalgia,
Quanta dor na tua ausência espargi-se
No inane e melancólico tédio da inspiração,

És alento ao desalento, ínclita e inefável musa
Da ilusão a realização mais intensa do romantismo,
Na aurora do amor o sol místico da adoração
No horizonte resplandece a fé e a esperanca,

Do ilibado coração o mais inocente e puro sentimento
A criatura mais explêndida e singela ...
Contemplo-te num silente e insaciável desejo, eterna angústia,

A essência de toda minha devoção, tornando o amor em religião,
A amada em Deusa, minha humilde existência curva-se perante tua imagem,
Minha cura e salvação, antes a morte que a solidão ...

Joao Paulo Castro

Beijo

Saborear tão vorazmente a essência do sentimento,
Num insaciável, sublime e intenso
Encontro afável de lábios enternecidos,
Acalento ao desamparo do anseio romancista,

Íntima união de secretos desejos
Nos jardins dos sonhos e das imaginações
Entre veludosas e orvalhadas rosas
Banhando-se nos lumes do astro rei,

Juntos dispersivamente, perdem-se,
Em busca da saciação da razão da atração,
Percorrem mutuamente a infinitude do extremo,

Padecem com os corpos extasiados,
Em cumplicidade adormecem no paraíso,
Para amorosamente com um beijo despertar...

Joao Paulo Castro

Jardim das Almas

Ao despontar dos primeiros raios de sol,
Sente-se os lumes aquecer a carne adormecida,
Sob o som da canção da brisa que sutilmente as acaricia,
Concebendo um sentido único de liberdade e de existência,

Quando principiar a primavera da vida,
No auge da inocência de toda ingenuidade,
Impedindo que os primeiros orvalhos do coração,
Sejam estancados pela aridez do mundo,

Rendendo-se ao inevitável porvir de receios e incertezas,
Movido de íntima compaixão com avidez e esperança,
Transbordando vivacidade em cada ato de rebeldia,
As mãos levantadas pro céu, num grito de dor e de alívio,

No início da aurora da última luz que iluminará o jardim,
Raras e igualmente explêndidas, exalando encantamento,
Terão pavor, fugindo ao temer o desconhecido,
Encontrarão desgraças e fracassadas terão o perdão,

E se tornarão sabiamente humildes na glória,
Pra serem julgados, sentenciados e ceifados,
Muitos tombarão e os que ficarem se renavarão
Com o despertar das almas ao nascer do amor ...


Joao Paulo Castro

Amor de Carnaval

Eis então o mais puro amor,
Como o perfume das rosas na primavera do paraíso,
Um relâmpago que iluminou meu horizonte,
Tão efêmero e tão intenso que me iluminaria por muitas vidas,

És um anjo que dedilha em sua harpa
O tom dos meus sentimentos,
Navegas com minhas esperanças em meio a tempestade
E tão serena levas silenciosamente a minha própria vida,

Ao te ver, saudade deixou de ser apenas saudade,
Solidão não é mais solidão,
E que paixão é paixão se não a tenho comigo,

Despertei quando renasceste pra mim...
E torno a falecer na quarta-feira de cinzas, quando tudo vira pó,
Descobri que teu nome é amor ...


Joao Paulo Castro
escrito em 01/03/03

terça-feira, 21 de julho de 2009

A Versão do Amor

O amor não desonra nem ensoberbece,
O amor não causa dor nem sofre dano,
O amor é sincero não ofende e agradece,
O amor é respeitador, leal e soberano,

O amor é sábio não julga nem é julgado,
O amor é integro não trai nem é traido,
O amor não se entristece nem é menosprezado,
O amor não é ciumento, não enfraquece nem é substituido,

Apenas o amor resiste e suporta a tudo,
Apenas o amor restaura a esperanca e devolve a vida,
Apenas o amor concebe o prazer de ser amado,

Somente o verdadeiro amor perdoa e é perdoado,
Somente o verdadeiro amor é sublime e eterno,
Somente o verdadeiro amor abdica do amor, por amor.....

Joao Paulo Castro

Poeticamente Poético

Poetas compõem, transpõem o intransponível,
Emaranhado de nós e laços tecidos pela alma,
Com o amor entranhado, rabiscado em toda a verdade
Em mármore ou granito, bebido em cálices de saudade,

Exaltando o amor, cunhado em metal de brilho raro,
Senti exalar sensualidade em cada gesto da pessoa amada,
Como se ela fosse a origem de todo amor que nos cega
E nos eleva ao éden onde germinam os sentimentos nobres,

Então o corpo desfalece, adormece no ar sob a divina luz,
E quando a solidão invade e se espalha, fere a pureza,
Causa dor, o espírito procura refúgio em seu próprio eu,
Torna-se livre ao fugir para os seus sonhos,

E talvez assim encontre alívio, para não penar entre os vivos,
Descobrindo um amor, mesmo que seja irreal, mas que seja feliz,
Ainda que não seja eterno, que siga o compasso da caminhada
Que trilha o destino triste e encantador da poesia........

Joao Paulo Castro

Nada Mais do Que Nada

Morri por tudo que eu mais amava,
Com os restos que sobraram
De um passado quase esquecido
Construí meu próprio castelo,
Uma alcácer divinamente sombria e misteriosa,
No alto da montanha, no ermo da solidão do mundo,
Inerme contra as batalhas e as guerras travadas,
Sou escravo do meu próprio egoísmo,
Refugio-me no calabouço, preso pela solidão,
Aterrorizo-me com os gritos procedentes do torre,
Mas a torre está deserta, inóspita e inacessível,
Não há princesa ou rainha na torre desse castelo,
Os gritos que ouço é o eco da minha melancólica infelicidade,
Essa é uma terra sem rei, sem lei, sem povo e sem religião,
A crença do amor resistiu a muitas atribulações,
Mas os Deuses do Amor suicidaram-se,
Atiraram ódio contra o próprio peito
E deixaram-nos a sós com a tristeza,
Vago sem rumo, envenenado pelo meu próprio orgulho,
Nos machucamos tanto por quase nada,
Sinto o vento rebentar-se contra o castelo
Espalhando-me pelo ar, disperso-me
E volto a ser nada........

Joao Paulo Castro

Poesia

Um poeta escreveria em versos nosso eterno amor,
Sonharia em vivê-lo em rimas tão perfeitas
Que se tornaria servo da saudade do que não fora vivido,
Mas aspirados em desesperados sussurros da alma,

Súdito da poesia, idealizando a improvável aurora
No abismo escuro do cárcere do sentimento,
Um romântico sonhando em viver um sonho,
Anseios perdidos no limite da infinita imaginação,

Palavras se erguerão lado a lado, construindo impérios,
Descrevendo os destinos traçados em livros sagrados,
Tornando o verbo em carne e a carne em templo,

No templo onde o amor será celebrado e realizado,
A união do amor de dois mortais
Imortalizada na lápide do eterno amor...

Joao Paulo Castro

Poesia ao Amor Desconhecido

Não sei onde, não sei como, não sei quando
Comecei a te amar, ânsia que devora o que sinto
Sentimento adormecido que morre ao nascer,
Sem fim, sem começo, vivo apenas o instante,

Não sei por que ainda resta esperança,
Fé que me faz crer na realização do impossível,
Sei apenas que te amo e isso é tudo,
Não sei que és, não sei de onde vens, mas estais em mim...

Desejo intensamente respirar os teus encantos
Para despertar minha alma desfalecida na dor de existir,
És obra da minha insana inspiração,

A felicidade é a mentira que ilude a perfeição,
Meu temor é o que me acalma, e o silencio é instigante,
Padeço consumido por um amor que não conheço....

Joao Paulo Castro

Joao Paulo Castro

Minha foto
Escrevi na porta dos arrependimentos todos os meus pecados.........