segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Peso de papel

Vai papel, voe pra longe,
Pra onde mãos humanas não possam macular-te,
Fuja, esgueire-te entre a porta que abro-lhe,
Se preciso abrirei a janela pro vento levar-te,
Mas não insista papel
Em colher em tinta toda a minha dor,
Voe, pra que o meu pensar não lhe atinja,
Se o meu escrever punge-lhe em tristezas
Que fazem de mim um ermo álgido,
E que pousa e adormece em tua alva face,
Na qual declaro e em ti derramo a vida,
Que do amor provém e que a vida destrói,
E o que seríamos sem o amor, tão fugaz
Quanto esta eterna vida, tão exato
Quanto a ignota morte que em ti sepulto,
Mas não se culpe papel pelo meu sofrer,
Se é veemente a solidão que planto em ti
É por que zelo-te e conforto-me em teu seio,
Procuro-te com a intenção de dar-te formas,
Pra saciar a saudade dos amores que nunca vivi,
Teu olhar consola e tua companhia vicia,
E quando banho-te em lágrimas
É por que divido contigo os clamores da alma,
Da minha doce e pobre alma, talvez sorumbática
Mas nunca inebriada em desprezo e ódio,
Solitária, mas nunca amargurada em rancor,
Não me privas de ter liberdade
E não me libertas da privação,
E mormente em ti encontro eu mais amor ... ?

João Paulo Castro

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Joao Paulo Castro

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Escrevi na porta dos arrependimentos todos os meus pecados.........